domingo, 23 de março de 2014

Conheço gente gente egoísta, que te deixa falar metade da frase, porque você não pode ser tão quieto assim, porém, quando tomam a voz, quando grosseiramente te interrompem, com habilidade, transformam o que você nem acabou de dizer, sem as suas ponderações, sem as devidas ressalvas, em pobreza de conhecimento, em falha, em coisa desinteressante.

Essa gente gosta de história em quadrinhos e conversa contigo como se você fosse obrigado a conhecer todos os super heróis que, por princípio, você não quer nem ouvir falar, porque fantasia é bom somente para quem as fantasiam. Te atacam e te fazem anti-herói, porque você faz parte de uma fantasia onde tudo deve respeitar um script ordenado pelo Bem e pelo Mau.

As vezes te perguntam algo como “Quem te disse isso!!!?”, expressando o maior desprezo com a sua capacidade de chegar em um raciocínio relativamente simples, porém que requer uma certa sensibilidade, um certo contexto, uma certa vontade de concluir algo que só os geniais teriam direito de conseguir.
Essa gente tem uma certa covardia, um certo medo de que você traga conhecimentos e dados que façam com que o “seu jogo interno” seja ameaçado e que tudo pare de fazem sentido. Dizem: “Isto não faz sentido” como se você tivesse dentro da cabeça deles procurando fazer sentido, como se você pudesse escrever em duas ou três fases, uma tese de doutorado.

Quando você “conversa" com pessoas assim, você tenta sempre dizer uma frase coesa, única em sentido, sem intenção de se pronunciar “definindo o universo”, porque você nem mesmo consegue dizer metade de uma frase. As coisas ficam mais com cara de duas sílabas, ou com frases que não terminam a linha de um caderno de criança.

Casam-se porque gostam de mulher, porque gostar de mulher os tornam mais bem aceitos por todos. Odeiam a sogra, pois "ela não gosta de homens”. Estranhamente entendem o gosto das pessoas como se fosse normal gostar de algo bom ou odiar algo ruim. Quando brigam com a esposa, ficam tristes e precisam se redimir com os “amigos”: Silenciam até tudo volta ao lugar de origem, ofendem, menosprezam e te fazem menos inteligente, no mundo deles, claro.

Gostam de Ciências Naturais e, por isso, tudo precisa de um crivo onde os fulanos pós-doutores em Harvard já haviam escrito há, pelo menos, algumas décadas, num artigo publicado na revista da área que atuam. Esquecem-se que ciência se faz todos os dias e que todas as pessoas que escreverem alguma coisa há décadas já a rescreveram com outras interpretações e até obtiveram outros resultados.
Gostam de matemática também, mas só estudam mesmo, pois desenvolver um trabalho acadêmico não traz dinheiro para pagar as contas, porque as contas são: "a razão da vida". Ouvi coisas como estas algumas vezes em um curto período de tempo.

Não vou dizer sobre as opiniões que rodeiam a ideia que fazem das religiões, porque não tem graça mesmo. Não sou religioso, mas tem gente que consegue criar uma “Igreja Mundial da não Presença de Deus”. Paradoxo, penso eu!

Gente assim também tem o meu respeito, mas não tem o meu coração, pelo menos quando penso em coisas que a vida nos dá e que podemos lidar com dignidade, que sejam boas ou ruins, mas com dignidade.
Gente que sofre com a presença de gente assim, gente que vive em uma bolha cada vez menor, gente que se desfaz das lembranças, gente que escreve por não conseguir mais: falar uma frase pela metade.