sábado, 27 de junho de 2009

Pequenos Lugares

em casa pequena
o frio não mora,
mesmo que de fora
quem entra, vista blusa.

no banheiro de um só
o chuveiro é melhor.
cabe um, o banheiro
e mais ninguém.

a arte é a ferramenta
que ajuda a buscar o sentido.
ela me acha e me perturba
nos lugares muito pequenos, dentro de mim.

se só fechado eu posso escapar,
abro janelas em meu corpo.
suporto o frio, a dor e o sangrar,
para que o preso em mim consiga voar.

A dor e o abandono

O frio chegou.
meu corpo está todo quebradiço.
a pele seca, esbranquiça-me
e as pontas dos dedos adormecem.

é tarde da noite.
mudei a cama de lugar,
trouxe a para perto do interruptor.
quando termino de escrever, estico o braço.

alongar me lembra a juventude.
época feliz para ser gostado,
tempo em que o abraço desmontava o esqueleto,
que derretia o coração.

as vezes me esqueço de respirar.
acho que para dar um fim em toda a dor,
dor que os meus não querem mais ter,
que me torna evitável.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ele e Ela

da minha mãe
herdei a arte,
do meu pai
o coração.

fui o mais tímido
dos quatro filhos dele
e o mais carinhoso
com ela.

dela, ainda sou,
dele, agora é meu portal,
o infinito em mim
que se entra pelo peito

comigo ele aprendeu a compreender
aquilo que um homem de sucesso não respira
para ela eu ensino o que aprendi com ele
porque neles o caminho se abriu

em abril ele se foi
e deixou a liderança para mim.
os outros, que nunca deixaram nada,
deixaram-me partir.

meu pai e minha mãe!
meus portos seguros,
um em cada continente,
os primeiros: ele e ela.