quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cinco anos esta manhã

Por cinco anos estive quieto, porque as coisas que eu sempre gostei de falar, os assuntos que sempre me fizeram ver o mundo de uma forma mais mágica, tinham perdido o seu gosto.

Fui só perceber que o sabor da vida estava mais próximo de uma alimentação para doentes quando completei um ano desse longo e destemperado passar. Tentei lutar por muitas vezes, mas acabei sucumbindo e esqueci de tudo que me parecia apaixonante, com exceção da família mais próxima que, neste caso, fiquei até mais apegado.

Os amigos foram os primeiros que tentaram me mostrar o quanto eu estava precisando voltar a tirar os pés do chão e, por tentarem, acabaram se distanciando. Cheguei a ouvir: “coisa ruim atrai coisa ruim”, como se fosse possível eu olhar para dentro e não enxergar um abismo que havia se instalado, como se eu pudesse olhar para dentro e contemplar um campo de flores. Até as flores me traziam o mal-estar, mesmo quando eu estava em paz, pois flores era tudo o que eu via pelo lado de dentro.

Infelizmente não foi um período de choro, foi um secar dos olhos, foi um doer dos olhos. Após fortes dores de cabeça que eram originárias das dores na vista, fui ao médico e comecei a pingar alguns colírios para tratamento de glaucoma. Não era ainda a doença dos que perdem a vista, mas era bem possível que, em um dado momento, eu chegaria nela ou ela chegaria a mim.

Era comum eu me pegar no meio de pessoas que falavam dos seus gostos e do gosto pelas coisas belas ou prodigiosas. Eu pensava: “Eu não sei mais o que gosto, porque se eu precisasse dizer alguma coisa, não teria um assunto”. Não era algo que me pudesse deixar desesperado, era somente algo que eu não conseguiria desenvolver. As pessoas falavam das suas coisas e só o silêncio podia me levar para um estado de conforto, ficava quieto até que algum desavisado acabava me deixando mais quieto.

Hoje entendo o porquê gosto tanto de um ex-colega de trabalho, atualmente um amigo distante, mas amigo! Ele me dizia: “Tá bom! é o que tem pra hoje! vamos comer onde!?”. Nossas conversas sempre foram superficiais, porém nunca vi algo tão profundo, por me deixar silencioso, por dizer: “Tá bom! é o que você tem pra hoje!”. Certa vez ele me chamou para trabalhar em outra empresa, pois eu seria a pessoa ideal, em sua opinião, para resolver os problemas que lá ele não conseguiu: Ficamos um ano inteiro sem nos falar direito, por algo que eu disse e que não continha o sentido que ele havia capturado. Após uma conversa, nos entendemos novamente.

O tempo passou assim: Sem paixões, sem muitos desgostos, sem belas amizades, sem até inspirações musicais: isto sim foi muito estranho. Tomei muito cuidado com o “estragar o outro” e acabei uma pessoa mais gentil e mais generosa. Ser gentil nunca foi muito o meu jeito com as “coisas”, pois eu sempre fui conhecido como alguém de opiniões fortes, no entanto, acolhi as ideias que vinham de fora e as pessoas como elas se apresentavam. Esta foi a única forma que encontrei de me comunicar. Certo dia, intrigado do porquê as pessoas não me amavam, uma amiga me disse: “Você é legal com todos, não dá para saber quando você está interessado em alguém. As pessoas se afastam porque você não demonstra aquele sentimento de gostar exclusivo”: Ser gentil também tinham lá as suas dificuldades!

O ano de 2013 passou e em seu final eu tive uma vontade forte de chorar. Não chorei, mas fiquei acordado por quase 3 dias. Desesperado, tomei remédios para dores musculares e apaguei. Os dias foram passando e eu me sentia apaixonado por algo que não tinha ideia do que era e, até agora, eu não sei. O que sei é que você foi embora há cinco anos, pai, e eu, sem saber o que fazer, fui com você! Saí de mim para ficar enterrado estes longos 5 anos!


A saudade me deixou mais forte, assim como hoje estou, mas lembrar de você precisará, daqui para frente, me trazer a paixão das coisas que ainda estão por vir. Verei!

2 comentários:

Andréia disse...

"Certo dia, intrigado do porquê as pessoas não me amavam, uma amiga me disse: “Você é legal com todos, não dá para saber quando você está interessado em alguém. As pessoas se afastam porque você não demonstra aquele sentimento de gostar exclusivo”: Ser gentil também tinham lá as suas dificuldades!"
Este trecho diz tudo. E acrescenta mais: um belo dia a gente percebe que não deixou de te amar. Como hoje, em que lembrei de você e busquei as saudades no Coisas de Prata.
O que os amigos fazem? Por vezes percebem que a distância é o melhor remédio...
Claro, gentileza é algo bom. Mas a gente aprende que nem sempre todos estão na nossa sintonia.
Abraços carinhosos.

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